terça-feira, 30 de julho de 2013

That's All Right For Sure

foto meramente ilustrativa, pode não representar o conteúdo da embalagem 



foto: Fabrício Simões

Octopus Tentacles


Satori dos Dançarinos



Ao ver a foto, Alessandro perguntou se aquele homem sozinho conseguira mesmo parar os tanques de guerra durante alguns minutos. Quem mostrava a foto respondeu que não, que não tinha sido durante alguns minutos. Disse que aqueles tanques estavam parados lá até hoje.
Se não tivesse existido aquela guerra, a menina das queimaduras poderia ter sido dançarina, escritora ou pintora, disse a Iandra quando criança. Responderam a ela que sim, que a menina poderia ter se queimado aos poucos, dançando, escrevendo ou pintando, sem sofrer o protagonismo de uma vez só.
 A Samira viu a foto da Marina nua em frente às opções da mesa. E as pessoas faziam cócegas? E as pessoas machucavam ela? perguntou. Responderam que as pessoas que sempre riam faziam cócegas, e a pessoas que mais sofriam machucavam. E que por isso a Marina, ao chegar ao hotel e se olhar no espelho, só sentiu que estava em paz, pois estava vazia, tinha sido todas as pessoas durante aquelas seis horas.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Our Town is Very Pretty


Augusto Quenard - - - - - - - O Escrivão - - - - - - - - - - Desaparecido - - - - - - - - - - - - - - - - - - - "O Lado Obscuro" - - - - - - - - - - - - - - - - -




É o corpo na calçada visto em olhar sesgo. Uma sombra que ao ser buscada não é mais. O frio na espinha resultado da carícia do invisível. Na janela o reflexo brusco que não tem como. O passo áspero às costas sem ter mais ninguém. A batida na porta da sala mesmo que. A luz que acende no quarto da casa vazia. O olhar atento do animal aonde não. A possibilidade de ser outra possibilidade. O gesto amável que desperta o medo sem razão aparente. As palavras que induzem à palavra que evitam. A fotografia da testemunha de um horror. Os corredores do prédio abandonado. A explicação oficial que oculta.
A sombra da dúvida. O fundo do tema. O vulto na névoa.
É o fruto disforme dos nossos sentidos, a goma latente nas alianças de imagens formadas em nossas respostas, a goma cinza que dá vida às suspeitas vorazes, ao reverso dúbio que contamina a paz do simples e corrói a lisura do explícito. A goma em sua permanente forma de vulto, engendro das sementes de fobias. O reflexo desfigurado em que as imperfeições denotam a verdade parcial assustadora, anúncio da metade obscura de todas as formas, de todas as coisas, de todas as luzes.



quarta-feira, 24 de julho de 2013

All Right Baby


Balanço



Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada. A céu aberto ficavam os ossos, dentro da pele seca e rachada, polida pelo vento e queimada pelo sol. As ilusões de um dia feliz fugiam do orvalho escondidas sob a escada que só descia. O teto inútil sempre empilhado, esperava para ser coberto pois não queria dormir ao relento.
Ninguém podia entrar nela, não, porque na casa não tinha chão. O batente sem porta guiava sempre para fora. Os pássaros, sem ver o dentro, se acostumaram com o modelo e faziam ninhos sempre do avesso. Quem lá pisava sentia medo e se sentia descendo à terra.
Ninguém podia dormir na rede, porque na casa não tinha parede. O canto do grilo buscava o eco que as janelas não devolviam. O jardim por primeira vez via sua parte traseira, onde cresciam árvores condoídas do desânimo das trepadeiras.
Ninguém podia fazer pipi, porque penico não tinha ali. Besuntados de urina e fezes os tijolos só pensavam em tornar-se pó para ir embora do lugar. Os gatos, faltos de areia, ansiosos confabulavam esperando esse momento.
Mas era feita com muito esmero, na rua dos Bobos, número zero. O homem não contava. O seu esforço de magia para tirar do nada uma construção, desencantado por outras forças, ficava à toa em meio ao terreno e sustentava contradição.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Notre Fleur D'égout

foto meramente ilustrativa, pode não representar o conteúdo da embalagem




Foto: Fabrício Simões

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Love you


Gomask


foto meramente ilustrativa, pode não representar o conteúdo da embalagem

Aware.
Inconsciente.
Aquilo que a percepção não percebe que percebe.
Tensão na dificuldade de ver o óbvio, digo, afrouxamento.
Ruído no canal.
O que é selvagem (pergunta)
Quem sabe podemos surpreender o intelecto.
Coelho.
Pergunta.
Tensionar a dificuldade de tornar visível o invisível do visível,
digo, afrouxar.
Estamos interessados naquilo que
a razão, quando sozinha,
não pode compreender;
e mais interessados naquilo que vocês quiserem entender da goma do que naquilo que nós queremos que vocês entendam dela.
This dance we dance keeps us from total madness.
Thanks for sharing.
Hole.






* AWARE - palavra japonesa designada para os sentimentos provenientes da beleza do efêmero.



Foto: Fabríco Simões

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Atrocidade Atemporal


Ata No - 5

Na noite do dia 2 de dezembro de 2012 participaram da Assembleia Geral Ordinária: Iandra Cattani, autora e dançarina, Alessandro Rivelino, autor e dançarino, Augusto Quenard, escrivão. A primeira chamada para votação teria início às 20 horas ou com a participação de mais do 50% do coletivo, a segunda, às 20h10. Chegada a hora limite da segunda chamada os dois únicos participantes, a saber: Iandra Cattani e Alessandro Volta, votaram o item da pauta: a favor ou contra a realização da Assembleia. Votaram a favor. Começaram a Assembleia. Em virtude de não haver ninguém além deles, decidiram cozinhar. Às 20h31 agregou-se ao grupo Quenard, o escrivão. Foram discutidos os pontos arrolados abaixo:
1) Debateu-se a respeito da matéria do espetáculo. O participante Quenard questionou a pertinência de um escrivão no projeto e quis saber qual seria o assunto, o enredo e as personagens do espetáculo. Rivelinho respondeu que o assunto era o amor e que ainda não havia personagens construídas nem muito menos enredo. Quenard não entendeu, mas esboçou um gesto de compreensão e disse “claro, claro”. Rivelito insistiu em que estava em construção e que era um projeto de criação que tinha como uma das diretrizes dar liberdade aos artistas participantes. Cattani, ao ver que Rivelini não sabia bem o que dizer, ofereceu suco de mirtilo a Quenard. Não houve votação.
2) Discutiu-se a porcentagem de honorários determinada para cada participante. Decidiu-se, por unanimidade, que, como escrivão, mais do que não ganhar, Quenard já saía devendo. Estipulou-se a dívida no valor das despesas relativas à realização da Assembléia. Todos votaram a favor.
3) Refletiu-se sobre a ausência do coletivo na Assembléia. Propuseram-se algumas hipóteses: a) as condições climáticas; b) o desgaste emocional causado pelo encontro desportivo entre os times de futebol Grêmio e Internacional; c) a preguiça domingueira; d) o difícil acesso à locação do encontro. Houve dois votos para o item “c” e dois para o “d”. Em vista da fraude na votação, repetiu-se o processo. Todos votaram no item “a”.
4) Comentou-se a possibilidade de chamar uma pizza. Houve três omissões.
5) Comentou-se a chance de haver elementos do espetáculo JokerPsique no novo espetáculo em questão. Rimelino alegou ter padecido de desorientação e leve transtorno esquizofrênico durante a fase final da produção do espetáculo anterior, em virtude do estresse. Disse que escutava principalmente a voz de uma mulher que lhe dava ordens. Cattani sugeriu a hipótese de ter sido a sua própria voz enquanto estavam em casa. Todos votaram a favor.
6) Rivelllino diletou sobre a obra de Wolfgang Iser e sua Teoria do Efeito Estético. Ao ouvir o nome da teoria, Cattani pediu um intervalo de cinco minutos. Ao voltar estava melhor penteada e havia colocado broches na sua blusa. Rivellino explicou-lhe que se tratava do efeito estético literário e não do visual. Cattani sentiu-se aliviada. Quenard quis entender melhor de que se tratava a tal da teoria e se não estava relacionada ao período de desequilíbrio de Rivelllino. O mesmo falou sobre expectativas, frustrações, experiências e Estética da Recepção. Ao que Cattani teve o impulso de levantar-se para organizar melhor o vestíbulo do apartamento, mas viu-se desmotivada pelo olhar de Rivelino, que lhe garantia que ainda se tratava da recepção literária. Todos votaram a favor de abandonar o assunto.
7) Discutiu-se a possibilidade de pedir pizza. Todos votaram contra.
8) Observou-se um vestido flutuando numa das habitações do vizinho do outro lado da rua. Cattani e Richelino sagazmente entenderam que se tratava de um vestido secando. Quenard sugeriu a hipótese de alguém enforcado. Todos votaram a favor de mudar de assunto.
9) Comentou-se o árduo trabalho necessário para organizar os documentos necessários para a execução de um projeto artístico. O Alberto disse que ele fazia tudo ilegalmente e que estava “nem aí pra porra nenhuma”. Cattani e Rivellino falaram de suas experiências e de como era brochante quando chegava a hora de solicitar documentos da equipe, organizar tudo, observar os prazos, etc. O Alberto disse “Rivelina, para de ser fresco e vai trabalhar”. Quenard interferiu dizendo que talvez ele pudesse gostar de produzir outros espetáculos ficando encarregado só de uma parte, e não de toda a organização, e que não desistisse de ter um CNPJ. Houve duas omissões e um voto a favor do Alberto.
10) Observou-se que Cattani se assemelha a uma produtora, e que organiza tudo à perfeição. Inclusive as roupas que Rivelito deixa jogadas no banheiro. Só Cattani votou, a favor.
11) Decidiu-se que, devido à ignorância e apatia do escrivão, lhe enviariam materiais para ele se inspirar e escrever alguma coisa que prestasse. Cinco votos a favor.
12) Os assuntos que motivaram o espetáculo levaram a conversa outra vez para a trama e as personagens. Rivellina sugeriu que gostariam de explorar o debate do trânsito entre gêneros. Quenard entendeu que se tratava de gêneros textuais. Explicaram a ele que se referiam a gêneros identitários. Ele lembrou que o assunto era o amor e entendeu que amor mais esculhambação de gêneros, mais liberdade criativa só podia acabar em uma suruba pansexual. Escondeu sua fobia elogiando o sabor do pepino em conserva que serviram como aperitivo. Todos votaram a favor.
13) Quenard quis saber a data em que se daria início ao projeto. Explicaram a ele que o projeto já estava em andamento.

Nada mais havendo a tratar, foi lavrada por mim, Augusto Quenard, a presente ata, assinada por todos os presentes acima nominados e referenciados. Em porto Alegre, aos 2 dias de 2012.






Ass. Augusto Quenard




 




Ass. Iandra Cattani




 


Ass. Alessandro R.



 



Ass. Alberto