quinta-feira, 25 de julho de 2013

Augusto Quenard - - - - - - - O Escrivão - - - - - - - - - - Desaparecido - - - - - - - - - - - - - - - - - - - "O Lado Obscuro" - - - - - - - - - - - - - - - - -




É o corpo na calçada visto em olhar sesgo. Uma sombra que ao ser buscada não é mais. O frio na espinha resultado da carícia do invisível. Na janela o reflexo brusco que não tem como. O passo áspero às costas sem ter mais ninguém. A batida na porta da sala mesmo que. A luz que acende no quarto da casa vazia. O olhar atento do animal aonde não. A possibilidade de ser outra possibilidade. O gesto amável que desperta o medo sem razão aparente. As palavras que induzem à palavra que evitam. A fotografia da testemunha de um horror. Os corredores do prédio abandonado. A explicação oficial que oculta.
A sombra da dúvida. O fundo do tema. O vulto na névoa.
É o fruto disforme dos nossos sentidos, a goma latente nas alianças de imagens formadas em nossas respostas, a goma cinza que dá vida às suspeitas vorazes, ao reverso dúbio que contamina a paz do simples e corrói a lisura do explícito. A goma em sua permanente forma de vulto, engendro das sementes de fobias. O reflexo desfigurado em que as imperfeições denotam a verdade parcial assustadora, anúncio da metade obscura de todas as formas, de todas as coisas, de todas as luzes.



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